BODENAVE, Juan Díaz; PEREIRA, Adair
Martins. Estratégias de Ensino
Aprendizagem. 28 ed. RJ: Vozes, 2007. p 221-232.
Falar sobre atitude científica não é o
mesmo que falar de conhecimento sobre o método científico. Apesar de ambos
estarem interligados, são distintos. A atitude científica depende das
experiências vividas pelos estudantes, ou seja, o meio influenciará no modo de
ser do indivíduo. Já o conhecimento do método científico pode ser adquirido por
simples leitura, pois há livros específicos para alunos aprenderem como se faz
um projeto, uma resenha, e assim por diante.
No entanto, a metodologia atual de
ensino não fornece oportunidades adequadas para os alunos se sentirem
motivados, esse tipo de metodologia tradicionalista não estimula a curiosidade
nem a objetividade dos discentes que por isso acabam “trabalhando” apenas para
cumprir uma exigência do professor.
Seria interessante se o docente
trouxesse para a sala de aula atividades que motivassem e estimulassem o aluno
a querer aprender. É importante, porém observar que para cada aluno existe um
tipo de motivação, assim ao passo que alguns trabalhos, muito estruturados, são
estimulantes para despertar o interesse de alguns alunos esse mesmo trabalho
pode deixar outros alunos desorientados. Desta forma, a proposta ideal, seria
apresentar o mesmo assunto sob vários ângulos, oferecendo aos diferentes alunos
diversas maneiras de abordar, certo tema. (seminário, debate, painel, etc).
Desenvolver a atitude científica no
discente quer dizer instrumentalizar e criar uma realidade material estimulante
e propícia para o aluno desenvolver um raciocínio organizado, crítico e
criativo, sempre relacionando o conteúdo com a realidade vivida. Assim o aluno
poderá refletir sobre a natureza dos dados de seu conteúdo compreendendo o que
vem a ser senso comum e o que vem a ser fato científico. De posse dessa
definição fica mais claro para o aluno a necessidade que há em desenvolver
trabalhos pela investigação científica.
No sentido de confrontar os
conhecimentos dos alunos com a realidade, o professor pode se valer de
atividades práticas envolvendo manuseio de materiais, pesquisa de campo e
qualquer outra atividade que exija participação ativa do aluno. Essas
atividades são encaradas por muitos, como uma maneira de levar o discente a
aprender algo sobre o mundo real, e embora as atividades práticas pouco
contribuam para a aprendizagem de processos científicos, é correto afirmar, que
se os alunos agirem como cientistas descobrindo e ou redescobrindo conceitos
enquanto participam dessas atividades eles vão através da curiosidade, conhecer
a natureza do trabalho científico.
Com o auxílio do professor, as
curiosidades dos alunos acabarão se transformando em pesquisa e
consequentemente em descoberta, esse processo levará o discente à atitude
científica.
1.1 Pensamento convergente
e pensamento divergente
Sabemos que algumas pessoas são mais
curiosas e criativas que as outras, isso porque de acordo com as mais recentes
pesquisas em educação o homem pode situar-se entre dois tipos de indivíduos: os
de pensamento convergente e os de pensamento divergente.
Pensamento convergente seria a falta de
habilidade para perceber caminhos diferentes o que obriga o indivíduo a
resolver seus problemas segundo receitas que foram dadas, ele consegue ver
apenas uma maneira de resolver uma determinada situação. Ao contrário o
pensamento divergente seria a capacidade de perceber lacunas de usar caminhos
diferentes na solução de um problema, o indivíduo consegue ver varias soluções
para um problema.
É necessário dizer também que o meio
influencia decisivamente na fixação de linhas convergentes ou divergentes, pois
os indivíduos (quando normal) nascem com uma bagagem divergente, por exemplo, é
de natureza infantil as tentativas para pegar brinquedos, a busca constante de
explicações para fenômenos. Diante disto, a família é a primeira a contribuir
para o cerceamento, a quebra das linhas divergentes que começam a se fixar, curvando-as,
transformando-as pouco a pouco em convergente, por exemplo, impedindo que as
crianças busquem o porquê das coisas.
Na educação existem os professores
convergentes, esses ditam aulas, fazem com que os alunos “aprendam” apenas uma
maneira de resolver determinada questão, desta forma eles acabam tirando do
aluno o direito de solucionar problemas reais, e assim dentro de quatro paredes
os conhecimentos lhes são impostos. Alguns alunos sobrevivem a esse massacre
intelectual, defendendo suas linhas divergentes.
O professor deveria valorizar o pensamento
criador dos alunos, encorajá-los a manipulação de objetos e idéias, desenvolver
o pensamento crítico, encorajar a aquisição de conhecimentos em diversos
campos, isso ajudaria os seus discentes a desenvolver o pensamento divergente
de cada um.
Algumas das características de um
indivíduo divergente são: curiosidade, amplitude de leitura, respostas rápidas,
determinação, inventividade, facilidade em dar respostas, colocação de
problemas, atração por trabalhos difíceis, etc.
1.2 A Ciência
moderna e a solução de problemas
A ciência moderna não é a mesma que a
ciência tradicional, havendo grandes mudanças na abordagem que atualmente se
vem dando a pesquisa e a solução de problemas. Para melhor falarmos sobre o
assunto é necessário falar sobre Reducionismo e Mecanicismo.
O Reducionismo supõe a redução dos
fenômenos às suas partes básicas (que se esperava, fossem independentes).
Qualquer problema razoável era abordado mediante a sua redução a uma série de
problemas de componentes mais simples. Através do reducionismo, o crescimento
da ciência resultou na categorização dos fenômenos em classe cada vez menores,
que crescia em profundidade e diminuía em extensão, afastando-as dos problemas
reais do mundo.
No mecanicismo os fenômenos podem ser
explicados em termos de relacionamento de causa e efeito mecânicos ou
automáticos. A influência do meio ambiente era ignorada e favorecida as leis ou
interpretações científicas delas isoladas, ou seja, desenvolvida em laboratório
(ou estações de pesquisa). Esse modo de pensar fechado levou a uma visão de
mundo determinista e mecanicista.
No mecanicismo não há lugar para
conceitos de natureza teleológica, ou seja, dotado de finalidade, como metas,
escolhas e livre arbítrio. A partir de 1950, o reducionismo e o mecanicismo
passaram a ser vistos como bases inadequadas para a ciência.
O expansionismo, a teleologia e a
síntese são hoje reconhecidos pela ciência como formas de pensar o mundo. A
tendência atual da ciência volta-se cada vez mais para a obtenção do conhecimento
de estrutura das partes a partir do todo.
O expansionismo pressupõe o ponto de
vista de que os objetos e acontecimentos constituem partes de todos maiores e
dá ênfase ao todo. Essas partes podem ser de qualquer natureza, conceitos,
fenômenos físicos, objetos, gente, etc.
Na qualidade de sistema o expansionismo
possui três propriedades abaixo relacionadas.
1-
Cada parte afeta as propriedades do sistema como um todo.
2-
Cada parte depende propriedades de alguma outra parte do sistema;
3-
Nenhuma das partes pode ser organizada em subgrupos ou subsistemas
independentes.
Um
sistema é um todo que não pode ser dividido. Todo e qualquer sistema será parte
de algum sistema maior e possuirá, por sua vez, partes que podem ser
consideradas sistemas.
O modo de pensar, voltado para os
sistemas conduz a síntese da abordagem de sistemas, que são vistos como parte
de um sistema ou sistema maiores. A abordagem de sistemas implica na
organização da ciência da pesquisa. Enquanto o reducionismo supõe a indiferença
nas disciplinas, o expansionismo e a síntese supõe abertura e colaboração
através do esforço interdisciplinar, mas apesar dessa organização disciplinar
da ciência, o mundo não chega até nos de forma disciplinar. Nessa abordagem
também estão presentes implicações metodológicas profundas. Os sistemas físicos
estão enraizados em sistemas sociais ou deles sofrem influência. Os sistemas
sociais envolvem não apenas a interação de forças físicas, mas igualmente os
conflitos de vontade decorrentes da intencionalidade do comportamento dos
elementos animados presentes no sistema.
Se estamos saindo da Era da Máquina e
entrando na Era dos Sistemas, o tradicional método hipotético- dedutivo empregado pela ciência,
com ênfase em causa e efeito, não será dono absoluto do terreno. A abordagem
teleológica ou de meios-fins também deve ser reconhecido como um método
científico válido.
A
orientação da pesquisa pressupõe tanto a expansão do conhecimento (como obter o
que desejamos) com a resolução de problemas.
1.3 Atividades
de ensino-aprendizagem para desenvolver a atitude científica
Fazendo uma breve reflexão sobre
cada ponto aqui apresentado, percebemos que o melhor método para ensinar a
atitude e a habilidade científica são aqueles que tratam da solução de
problemas de forma sistêmica. A validade do método está no fato de existir
realmente algo para se resolver, ou seja, o aluno verá junto ao seu trabalho a
aplicabilidade do mesmo a alguma realidade.
O outro fator positivo é que para o
aluno resolver qualquer problema ele precisará primeiramente conhecê-lo,
estudá-lo, reconhecer suas causas, refletir a respeito, identificar e planejar
as possíveis soluções e, estes pontos levarão o discente à pesquisa.
Todo método de ensino aprendizagem,
pode ser usado como instrumento para desenvolver atitudes científicas, desde
que seja direcionado para tal. É o exemplo de uma exposição oral que se é organizada
como apresentação de perguntas e desafios ao invés de apenas transmissão de
informação, também servirá para desenvolver a atitude científica. E temos
outros como: pesquisa bibliográfica, prática de laboratório, práticas de campo,
métodos de projeto, estudo dirigido, construção de modelos e simulação e jogos
didáticos que podem e devem ser dirigidos para desenvolver a atitude científica
nos alunos.
Em qualquer dessas atividades é
necessário que haja programação por parte do professor, para que este saiba
desenvolver essas atividades de maneira que o aluno não perca o interesse de
pesquisar e aprender. Nas práticas de campo, por exemplo, é sabido que o aluno
atua com o meio e interage com ele, no entanto se este aluno não souber o porquê
de estar no campo, este momento para ele será apenas um passeio.
Cabe ao professor planejar práticas
de campo que despertem interesse no aluno e leve este a aprendizagem e ao
interesse de aprender interagindo com o meio, neste caso é preciso que o aluno
tenha por escrito, um guia que indique exatamente o que ele deve fazer e o mais
importante, por que deve fazer.
O princípio é o de levar o aluno a
observar e despertar neste a curiosidade, fazendo com que formule perguntas
desenvolvendo assim sua capacidade hipotética e analítica, neste momento é
provável que o aluno consulte a biblioteca para satisfazer suas dúvidas. Os
trabalhos planejados dessa forma podem levar o discente ao hábito de recorrer à
bibliografia como fonte de informação sempre que precisar.