segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O desenvolvimento da atitude científica nos alunos



BODENAVE, Juan Díaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de Ensino Aprendizagem. 28 ed. RJ: Vozes, 2007. p 221-232.

Falar sobre atitude científica não é o mesmo que falar de conhecimento sobre o método científico. Apesar de ambos estarem interligados, são distintos. A atitude científica depende das experiências vividas pelos estudantes, ou seja, o meio influenciará no modo de ser do indivíduo. Já o conhecimento do método científico pode ser adquirido por simples leitura, pois há livros específicos para alunos aprenderem como se faz um projeto, uma resenha, e assim por diante.
No entanto, a metodologia atual de ensino não fornece oportunidades adequadas para os alunos se sentirem motivados, esse tipo de metodologia tradicionalista não estimula a curiosidade nem a objetividade dos discentes que por isso acabam “trabalhando” apenas para cumprir uma exigência do professor.
Seria interessante se o docente trouxesse para a sala de aula atividades que motivassem e estimulassem o aluno a querer aprender. É importante, porém observar que para cada aluno existe um tipo de motivação, assim ao passo que alguns trabalhos, muito estruturados, são estimulantes para despertar o interesse de alguns alunos esse mesmo trabalho pode deixar outros alunos desorientados. Desta forma, a proposta ideal, seria apresentar o mesmo assunto sob vários ângulos, oferecendo aos diferentes alunos diversas maneiras de abordar, certo tema. (seminário, debate, painel, etc).
            Desenvolver a atitude científica no discente quer dizer instrumentalizar e criar uma realidade material estimulante e propícia para o aluno desenvolver um raciocínio organizado, crítico e criativo, sempre relacionando o conteúdo com a realidade vivida. Assim o aluno poderá refletir sobre a natureza dos dados de seu conteúdo compreendendo o que vem a ser senso comum e o que vem a ser fato científico. De posse dessa definição fica mais claro para o aluno a necessidade que há em desenvolver trabalhos pela investigação científica.
            No sentido de confrontar os conhecimentos dos alunos com a realidade, o professor pode se valer de atividades práticas envolvendo manuseio de materiais, pesquisa de campo e qualquer outra atividade que exija participação ativa do aluno. Essas atividades são encaradas por muitos, como uma maneira de levar o discente a aprender algo sobre o mundo real, e embora as atividades práticas pouco contribuam para a aprendizagem de processos científicos, é correto afirmar, que se os alunos agirem como cientistas descobrindo e ou redescobrindo conceitos enquanto participam dessas atividades eles vão através da curiosidade, conhecer a natureza do trabalho científico.
Com o auxílio do professor, as curiosidades dos alunos acabarão se transformando em pesquisa e consequentemente em descoberta, esse processo levará o discente à atitude científica.
1.1 Pensamento convergente e pensamento divergente
Sabemos que algumas pessoas são mais curiosas e criativas que as outras, isso porque de acordo com as mais recentes pesquisas em educação o homem pode situar-se entre dois tipos de indivíduos: os de pensamento convergente e os de pensamento divergente.
Pensamento convergente seria a falta de habilidade para perceber caminhos diferentes o que obriga o indivíduo a resolver seus problemas segundo receitas que foram dadas, ele consegue ver apenas uma maneira de resolver uma determinada situação. Ao contrário o pensamento divergente seria a capacidade de perceber lacunas de usar caminhos diferentes na solução de um problema, o indivíduo consegue ver varias soluções para um problema.
É necessário dizer também que o meio influencia decisivamente na fixação de linhas convergentes ou divergentes, pois os indivíduos (quando normal) nascem com uma bagagem divergente, por exemplo, é de natureza infantil as tentativas para pegar brinquedos, a busca constante de explicações para fenômenos. Diante disto, a família é a primeira a contribuir para o cerceamento, a quebra das linhas divergentes que começam a se fixar, curvando-as, transformando-as pouco a pouco em convergente, por exemplo, impedindo que as crianças busquem o porquê das coisas.
Na educação existem os professores convergentes, esses ditam aulas, fazem com que os alunos “aprendam” apenas uma maneira de resolver determinada questão, desta forma eles acabam tirando do aluno o direito de solucionar problemas reais, e assim dentro de quatro paredes os conhecimentos lhes são impostos. Alguns alunos sobrevivem a esse massacre intelectual, defendendo suas linhas divergentes.
O professor deveria valorizar o pensamento criador dos alunos, encorajá-los a manipulação de objetos e idéias, desenvolver o pensamento crítico, encorajar a aquisição de conhecimentos em diversos campos, isso ajudaria os seus discentes a desenvolver o pensamento divergente de cada um.
Algumas das características de um indivíduo divergente são: curiosidade, amplitude de leitura, respostas rápidas, determinação, inventividade, facilidade em dar respostas, colocação de problemas, atração por trabalhos difíceis, etc.

1.2 A Ciência moderna e a solução de problemas
A ciência moderna não é a mesma que a ciência tradicional, havendo grandes mudanças na abordagem que atualmente se vem dando a pesquisa e a solução de problemas. Para melhor falarmos sobre o assunto é necessário falar sobre Reducionismo e Mecanicismo.
O Reducionismo supõe a redução dos fenômenos às suas partes básicas (que se esperava, fossem independentes). Qualquer problema razoável era abordado mediante a sua redução a uma série de problemas de componentes mais simples. Através do reducionismo, o crescimento da ciência resultou na categorização dos fenômenos em classe cada vez menores, que crescia em profundidade e diminuía em extensão, afastando-as dos problemas reais do mundo.
No mecanicismo os fenômenos podem ser explicados em termos de relacionamento de causa e efeito mecânicos ou automáticos. A influência do meio ambiente era ignorada e favorecida as leis ou interpretações científicas delas isoladas, ou seja, desenvolvida em laboratório (ou estações de pesquisa). Esse modo de pensar fechado levou a uma visão de mundo determinista e mecanicista.
No mecanicismo não há lugar para conceitos de natureza teleológica, ou seja, dotado de finalidade, como metas, escolhas e livre arbítrio. A partir de 1950, o reducionismo e o mecanicismo passaram a ser vistos como bases inadequadas para a ciência.
O expansionismo, a teleologia e a síntese são hoje reconhecidos pela ciência como formas de pensar o mundo. A tendência atual da ciência volta-se cada vez mais para a obtenção do conhecimento de estrutura das partes a partir do todo.
O expansionismo pressupõe o ponto de vista de que os objetos e acontecimentos constituem partes de todos maiores e dá ênfase ao todo. Essas partes podem ser de qualquer natureza, conceitos, fenômenos físicos, objetos, gente, etc.
Na qualidade de sistema o expansionismo possui três propriedades abaixo relacionadas.
1- Cada parte afeta as propriedades do sistema como um todo.
2- Cada parte depende propriedades de alguma outra parte do sistema;
3- Nenhuma das partes pode ser organizada em subgrupos ou subsistemas independentes.
Um sistema é um todo que não pode ser dividido. Todo e qualquer sistema será parte de algum sistema maior e possuirá, por sua vez, partes que podem ser consideradas sistemas.
O modo de pensar, voltado para os sistemas conduz a síntese da abordagem de sistemas, que são vistos como parte de um sistema ou sistema maiores. A abordagem de sistemas implica na organização da ciência da pesquisa. Enquanto o reducionismo supõe a indiferença nas disciplinas, o expansionismo e a síntese supõe abertura e colaboração através do esforço interdisciplinar, mas apesar dessa organização disciplinar da ciência, o mundo não chega até nos de forma disciplinar. Nessa abordagem também estão presentes implicações metodológicas profundas. Os sistemas físicos estão enraizados em sistemas sociais ou deles sofrem influência. Os sistemas sociais envolvem não apenas a interação de forças físicas, mas igualmente os conflitos de vontade decorrentes da intencionalidade do comportamento dos elementos animados presentes no sistema.
Se estamos saindo da Era da Máquina e entrando na Era dos Sistemas, o tradicional método  hipotético- dedutivo empregado pela ciência, com ênfase em causa e efeito, não será dono absoluto do terreno. A abordagem teleológica ou de meios-fins também deve ser reconhecido como um método científico válido.
A orientação da pesquisa pressupõe tanto a expansão do conhecimento (como obter o que desejamos) com a resolução de problemas.
    
1.3 Atividades de ensino-aprendizagem para desenvolver a atitude científica
            Fazendo uma breve reflexão sobre cada ponto aqui apresentado, percebemos que o melhor método para ensinar a atitude e a habilidade científica são aqueles que tratam da solução de problemas de forma sistêmica. A validade do método está no fato de existir realmente algo para se resolver, ou seja, o aluno verá junto ao seu trabalho a aplicabilidade do mesmo a alguma realidade.
            O outro fator positivo é que para o aluno resolver qualquer problema ele precisará primeiramente conhecê-lo, estudá-lo, reconhecer suas causas, refletir a respeito, identificar e planejar as possíveis soluções e, estes pontos levarão o discente à pesquisa.
            Todo método de ensino aprendizagem, pode ser usado como instrumento para desenvolver atitudes científicas, desde que seja direcionado para tal. É o exemplo de uma exposição oral que se é organizada como apresentação de perguntas e desafios ao invés de apenas transmissão de informação, também servirá para desenvolver a atitude científica. E temos outros como: pesquisa bibliográfica, prática de laboratório, práticas de campo, métodos de projeto, estudo dirigido, construção de modelos e simulação e jogos didáticos que podem e devem ser dirigidos para desenvolver a atitude científica nos alunos.
            Em qualquer dessas atividades é necessário que haja programação por parte do professor, para que este saiba desenvolver essas atividades de maneira que o aluno não perca o interesse de pesquisar e aprender. Nas práticas de campo, por exemplo, é sabido que o aluno atua com o meio e interage com ele, no entanto se este aluno não souber o porquê de estar no campo, este momento para ele será apenas um passeio.
            Cabe ao professor planejar práticas de campo que despertem interesse no aluno e leve este a aprendizagem e ao interesse de aprender interagindo com o meio, neste caso é preciso que o aluno tenha por escrito, um guia que indique exatamente o que ele deve fazer e o mais importante, por que deve fazer.
            O princípio é o de levar o aluno a observar e despertar neste a curiosidade, fazendo com que formule perguntas desenvolvendo assim sua capacidade hipotética e analítica, neste momento é provável que o aluno consulte a biblioteca para satisfazer suas dúvidas. Os trabalhos planejados dessa forma podem levar o discente ao hábito de recorrer à bibliografia como fonte de informação sempre que precisar.
           

Literatura - Livro Breviário das más inclinações: Elementos místicos




Resumo:
“O Breviário das Más Inclinações” de José Riço Direitinho é uma narrativa envolvente, inspirada em escritos antigos do livro “Vida e morte de José de Risso” de autor desconhecido, s/ data, edição datilografada e policopiada (stêncil), e de distribuição gratuita durante as romarias. No início de cada capítulo, existem escritos fac-similados desta obra, que “resume” o que irá ser dito no capítulo.
 José de Risso é o personagem central da trama e é fruto de uma única noite de amor que sua mãe teve com um caixeiro viajante, que vai embora e a deixa grávida. A mãe morre no momento em que ele nasce e deixa José de Risso aos cuidados da avó.
José de Risso é um personagem misterioso e intrigante, marcado por um sinal de desgraça no meio das costas, uma mancha vermelha em forma de folha de carvalho, que lhe concede junto ao dom de cura devido à habilidade que possui com as plantas medicinais uma fama de desgraçado e abençoado.
Totalmente voltado para as más inclinações, José de Risso tão depressa presta auxílio ao seu próximo, como o despedaça e destrói sem piedade.


“O José de Risso era de muito más inclinações e tinha muita propensão para os pensamentos com porcarias, era-lhe muito fácil ter inclinações porcas quando via as mulheres a passarem na rua e a abanarem muito as ancas”. (p. 163)


(A superstição ditava que a marca da folha era um sinal de desgraça e que o seu portador atrairia infelicidade e outros males a si e aos que de alguma forma consigo se relacionassem. Aos doze anos a avó morre e ele fica sozinho no mundo. José de Risso é maldoso, e vingativo, um exemplo disso é o capítulo que narra o suicídio do professor que acusa José de Risso de ser o culpado, tudo acontece porque um dia o professor recém chegado na cidade um dia chega em casa e pega a esposa o traindo com a cigana, ele fica muito abalado e decide matar a cigana, nesta mesma noite José de Risso começa a ter visões de adivinho e sonha com o professor assassinando a Cigana, a partir daí passa a perseguir o professor até fazê-lo matar-se, tudo isso porque nos primeiros dias de aula tinha levado onze reguadas na mão, por desobedecer o professor.)


Personagens:

José de Risso- Personagem central
            Caixeiro viajante- Pai de José de Risso
            Mãe de José – Morre assim que ele nasce
            Vó de José- Morre quando José de Risso tem apenas 12 anos
Purísima de La Concepción- Espanhola, dona de um cabaré e amante                                                           de José de Risso
Benjamim Botelho (Professor)- Primeiro mestre de José, enforca-se no pátio da escola.
Cigana- Amante da esposa do professor. Morre assassinada por Benjamim.
Professora- Segunda professora de José, "gostava de meninos" e teve uma caso com José quando ele tinha quase 9 anos.
Louca do Cortinhal- Ficou louca após a morte do noivo, a família a trancava em um curral. Durante a noite José de Risso se passava por seu noivo e ia visitá-la. (Morreu misteriosamente, esmagada por um touro, quando engravidou, apenas José de Risso, sabia o que havia ocorrido, com certeza ele a matou)


Espaço: A história se passa basicamente em Vilarinho dos Loivos na região norte de Portugal. As cenas, comumente descritas, na narrativa evocam paisagens bucólicas, são tantos pormenores que é como se o leitor pudesse ver os riachos, a desfolhada, os baús de roupas antigas, as pinhas, as montanhas e outros espaços que o autor descreve tão bem.
·         Descrição da caminhada da avó de José de Risso em uma noite de lua procurando ervas para desfazer a maldição que havia sobre ele.
“Caminhava apoiada num vara pau que lhe servia sempre para se defender das cobras e das aves noturna. Teria ainda de sair da aldeia, pela estrada da mina de água, passar pelo nicho da santa, perto da ponte e só depois de se meter a caminho pelas courelas, por entre o breu e os cordões de videiras que ladeavam o milho e as batatas” (p. 34)
(Na leitura, também temos a imagem dos casebres que parecem ser amontoados e encimados pelas torres sineiras. E ao redor do vilarejo, trilhamos velhos percursos que só os contrabandistas percorriam. Nas povoações damos conta do seu dia-a-dia, dos costumes, das ruas vazias, das casas por arranjar, dos campos verdes e paisagens.)
Tempo: O narrador lida com o tempo quase que simultaneamente, numa circularidade onde presente, passado e futuro coexistem e entrechocam-se. No tempo da narrativa predominam as prolepses que antecipam o que ainda será dito, como um presságio e as analepses que recapitulam o necessário para que o leitor não se perca na história.
Prolepse:
·         Risso sonha com o assassinato da cigana por seu professor Benjamim Botelho, no dia seguinte a cigana aparece morta. O professor a tinha envenenado por saber do caso que ela tinha com sua esposa.
“No sonho a cigana tinha umas enormes asas brancas e voava nua por cima da escola, rente ao telhado e à árvore do pátio. O professor interrompia de vez em quando a lição e, debruçado na janela com o ponteiro na mão tentava derrubá-la. Acertou-lhe uma das vezes, e o corpo leve da cigana caiu sem barulho sobre o chão de terra.” (p. 47)
Analepse:
·         O autor retoma o fio da história, para localizar o leitor na narrativa

“Isto aconteceu sete dias depois de a Louca do Cortinhal (...) ter sido esmagada por um touro contra a parede da corte.”(p.118)

ELEMENTOS MÍSTICOS QUE RODEIAM A NARRATIVA DE JOSÉ DE RISSO
            A Narrativa é um breviário (espécie de manual), porque é quase uma súmula das crenças populares. Marcado por crenças, superstições, simpatias, mezinhas, rezas e ladainhas.
 (Só quem como José De Risso, “sugou sofregamente, como se trouxesse uma fome de anos”  o leite materno com toda a sabedoria ancestral pode confirmar a veracidade dos rituais e das ladainhas que ele mesmo faz para curar as pessoas que nem mesmo médicos ou bruxos dão jeito)
Profecias- É a predição do futuro por alguém. O personagem mais marcante nesse elemento é o pai de José de Risso.
“O teu destino está preso a mim, também já o sabes (...). Ficamos ligados quando fechei esse cordão a pensar em nós.”
 (Essa cena ocorre quando o caixeiro, que também faz serviços de ourives conserta um cordão que sua avó lhe dera que se partiu misteriosamente no dia em que a avó morreu. É importante lembrar que quando a moça usa o cordão novamente, ela sente a mesma sensação que sentiu no dia da morte da avó. Há na cena a presença do presságio, um sinal de que sua vida não vai ser tão longa. A fala do caixeiro é muito significativa porque a partir dessa fala começam o desenrolar de cenas que leva até o nascimento de Risso, que é realmente a prova da ligação que houve entre o caixeiro e a mãe de Risso.)

Sonhos- Muitas passagens falam da interpretação de sonhos como se estes fossem verdadeiras antecipações do que se vai acontecer.
            “Ao pensar no cordão, algo lhe trouxe o sonho a memória: uma cobra que se agitava , saída de uma moita de espinheiros de flores amarelas, emitindo silvos e um barulho de pequenos guisos, e que mordia incessantemente a cauda. (...) De repente recomeçou a morder a cauda e transformou-se num só anel de carne, onde não se distinguia nem cabeça nem cauda.”(p.15)
(Este foi o único dia em que ela não se lembrou do sonho que teve. Aqui praticamente toda a simbologia do livro,. Haverá mesmo uma aliança entre ela e o caixeiro que será o José de Risso, e que como em um círculo nasce com a chegada do caixeiro e morre também com a chegada do caixeiro. Assim como o cordão que ele fecha e o círculo em que a cobra se transforma há uma volta em toda a narrativa que termina em sua vinda novamente a cidade. as flores amarelas podem significar lágrimas, dor . Porque o amarelo é concebido como a cor da tristeza e a cobra foi vista por nós como a figura da traição do caixeiro que a deixou grávida e desapareceu. Inclusive José de Risso é depois morto pelo pai e por causa de muitos escorpiões que existem em sua volta as pessoas são obrigadas a fazerem um círculo de fogo ao seu redor para poderem tirar o corpo de um buraco, e quando o círculo se apaga o pai vai embora da cidade.)
Mezinhas- São receitas caseiras, feitas de acordo com as sabedorias populares ancestrais.
            “lavava-se sempre numa infusão de folhas de arruda, apanhadas ao luar, e bebia tisanas com sementes de funcho e de sargacinha-dos-montes, para que as regras não lhe faltassem.”(p.9)
Superstições- A narrativa é recheada de superstições e simpatias, principalmente no momento em que ocorre o nascimento de José de Risso.
·         O bebê estava virado dentro da barriga
“Colocou então as mãos sobre o ventre da rapariga, e sentiu logo que a criança não se tinha voltado dentro da barriga. De maneira que era necessário subir ao telhado da igreja e voltar uma telha, para que também assim a criança se voltasse e se pusesse na posição certa de nascer.” (p.10)
·         Cuidados que a mãe tomou durante a gravidez
“Depois de saber que estava grávida (...) deixou de usar o cordão de ouro ou outro qualquer fio, para o bebê não nascer com o cordão umbilical enrolado a volta do pescoço, (...) partiu em casa todos os copos rachados para que não bebesse por eles, e não comeu carne de lebre durante todo o tempo da gravidez, pois a criança nasceria com o lábio fendido, leporino, e dormiria de olhos abertos;(...) e evitou olhar fixamente para o focinho de qualquer animal, o bebê poderia vir a ter feições de bicho.”(p.12)
Presságios- São os sinais ou fatos que prenunciam o futuro e que na obra quando não são interpretados acarreta em uma série de fatos
            “A velha sentira as primeiras dores no peito, pouco tempo depois de o José de Risso ter ouvido uma coruja piar na asna do telhado do Lagar Velho (...) Foi o estranho pressentimento disto e não ligar o pio do pássaro a morte da avó, que fez com que só voltasse para casa no final do dia.”
Sina ou Destino: Do pai, da mãe e da avó José de Risso herda uma grande carga simbólica e sabedoria popular, por isso seu destino é marcado por muitas crendices e superstições:
·         O dia do nascimento: Nascera no dia de São Bartolomeu, dia em que, segundo a crendice popular o diabo anda a solta.
“(...) Há coisas donde ninguém escapa (...)ter nascido no dia de S. Bartolomeu é uma delas” (p.6)
·         O batismo: José de Risso não foi batizado como deveria.
“(...) logo há coisas em que se sabem logo, e essa foi uma delas, o padre entornou a concha de água benta para o chão quando o batizava, já não havia remédio, isto já toda a gente sabia. Não adiantava que fizesse piruetas para fugir a esta sina (...)”(p.6)
“José de Risso era mesmo amaldiçoado, tanto que nem batizado foi, na leitura do livro percebemos esse toque diabólico que existe nele, por exemplo. Ele está praticamente em todos os lugares quando acontecem coisas ruins ou boas, e quase ao mesmo tempo, o que de ruim acontece é culpa dele, o que de bom acontece também! Ele conhece todos os caminhos que leva a todos os lugares na vila e mesmo quem lhe tenta fazer mal não consegue.”
·         O pai: A vida de José de Risso parece estar determinada por duas vindas do Caixeiro ao cenário da história. A primeira marcando o seu nascimento e a segunda coincidindo com a sua vingança e morte. Inclusive o narrador conta quase com as mesmas palavras a cena em que o pai vai embora da cidade, deixando num primeiro momento a mãe de Risso marcada por uma “aliança” e num segundo desfazendo essa
“aliança”.

·         Trecho que narra à partida do Caixeiro, quando este deixa grávida a mãe de Risso.
“Ainda não sabia que alguém o vira subir pelo carreiro das vinhas do monte, parar lá no alto com ambas as malas, olhar para trás, e desaparecer de seguida por entre os castanheiros e os carvalhos” (p.12)
·         Trecho que narra à partida do Caixeiro logo após a morte de Risso.
“Quando o círculo se apagou, um homem começou a subir devagar o carreiro das vinhas do monte. Parou lá no alto com ambas as malas. Olhou para trás, e desapareceu de seguida por entre os castanheiros e os carvalhos.” (p.157)
“Entre os dois aparecimentos do vendedor de ouro, ambos na época da desfolhada ocorre os incidentes que o levam a autodestruição porque tal como a mãe, não repara que o responsável por toda desgraça é a presença destruidora configurada no pai, É como se a primeira vez ele tivesse ido estabelecer a aliança e depois destruí-la.”
·         A marca- O ciclo da vida do protagonista é marcado por uma mancha em forma de Folha de Carvalho que este tem estampada nas costas. Cada vez que José de Risso usava seus “poderes” ou passava por uma emoção muito forte, a marca sangrava. No dia em que a folha cai o ciclo da vida de José acaba.
·         Nasce com a mancha nas costas, um presságio de infortúnios.
 “(...) e com um sinal em forma de folha de carvalho mesmo no meio das costas, é uma marca de desgraçado toda gente o sabe. Quando passava já todos viam que ia para morto (...)” (p.6)
“Para muitos povos o carvalho é uma árvore sagrada, que significa vida. O sangue, também simboliza a vida, logo percebemos, que cada vez que a marca sangrava José perdia parte da sua vida. Aqui também existe a presença da superstição que diz que a mancha foi gerada pelo descuido da mãe, que só depois que ele nasceu reparou que tinha no bolso do avental uma folha de carvalho durante toda a gravidez.”
·         No dia em que seu pai chega à cidade a folha cai, logo mais José de Risso aparece morto da mesma maneira como costumava matar escorpiões quando criança.
“Tirou da água a marca em forma de folha de carvalho com que nascera; olhou-a sem curiosidade e atirou-a para o meio dos brincos e anéis. (...) e correu na direção do Cerro do Mocho. Esquecera-se de que tinha descido também a peia da porta do quintal, deixando encerrado em casa, Lázaro, o cão.
            Um rapaz que levava o gado (...) encontrou José de Risso na manhã seguinte. Estava entalado, com os braços ao longo do corpo, numa fenda das rochas. Tinha a cara desfigurada pelas mordeduras venenosa das cobras e dos lacraus (eram tantos que, para o poderem erguer do buraco em que caíra tiveram que acender um círculo de fogo ao redor do corpo e esperar a morte dos escorpiões). ”(p.157)

“Quando o pai de José de Risso chega a cidade, José manda o cão roubar-lhe o ouro e os relógios como se fosse uma vingança, nesse mesmo dia a folha cai  e José de Risso aparece morto, assim como ele o pai é carregado de mistério. Morre com os escorpiões e como os escorpiões sem perceber que está caminhando para a própria autodestruição, igual a mãe não repara que o pai é a figura da desgraça, se vinga dele e recebe o troco.”



Comunicação Não Violenta



 Comunicação Não- Violenta



       Criada pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg e ensinada há mais de 40 anos por uma rede mundial de mediadores, facilitadores e agentes voluntários, a CNV vem sendo utilizada por pessoas que desejam intervir e agir com meios práticos e eficazes a favor da paz. A CNV é uma linguagem de vida, uma linguagem compassiva e empática, uma linguagem que me ajuda a entender a minha necessidade e a necessidade do outro e mesmo em situações conflitantes é possível que todos se sintam satisfeitos! Utopia? Não. É o milagre da CNV! Uma linguagem de vida, capaz de mudar vidas. 

                                          Eu não sou violento!  

Algumas pessoas que me ouvem falar de Comunicação Não Violenta, rapidamente se defendem "Mas, eu não sou violento!", isso porque em geral, quando se fala ou se pensa em violência, é inevitável a associação com atos de agressão física. No entanto a CNV trata da violência invisível, aquela que Marshal Rosemberg dizia (e eu concordo muito com ele) que é a maior violência que existe. Ela está presente na maioria das vezes, de modo imperceptível, disfarçada, no ambiente de trabalho, em casa, na sala de aula... Este tipo de violência expõe às pessoas a situações ofensivas, humilhantes... De acordo com Leymann desenvolve-se em uma situação hostil em que um ou mais indivíduos coagem um terceiro indivíduo de tal forma que ele é levado a uma posição de fraqueza psicológica. Causam dor, tristeza, baixo desempenho e costuma gerar patologias na medida em que a "vítima" acredita ser exatamente o que seus agressores dizem que ela é. Nas empresas podem vir de gestores autoritários que abusam de seu poder e das situações de fragilidade de seus funcionários. Em casa pode ser entre pais e filhos, cônjuges. Na sala de aula, pode acontecer entre os colegas, entre professores e alunos...
Mentira, impaciência, culpa, manipulação, exclusão configuram alguns tipos de violência invisível. A CNV é uma conversa interna e também externa, entre outras coisas trata da intenção, da sua intenção ao entrar em uma conversa. No meu workshop "Diálogos Conscientes" costumo fazer essa pergunta "Você entra em uma conversa para ouvir ou para mudar o outro?" A sua resposta, acredite, faz toda a diferença!


                       Para que serve Comunicação Não Violenta?

De forma geral, para superar e ultrapassar conflitos imobilizadores e/ ou violentos, muitas pessoas usam a CNV para mediar conflitos, mas os grupos com quem trabalho usam CNV para se comunicar de maneira eficaz e positiva no trabalho, em casa, com os filhos, com o cônjuge, com os alunos... Principalmente quando a conversa tem alguma "carga emocional". 
CNV envolve autoconhecimento e muita consciência dos seus desejos mais íntimos! A maior dificuldade reside no fato de que não nos permitimos nos conhecer profundamente e nem sempre reconhecemos as nossa próprias necessidades o que torna mais difícil reconhecer a necessidade do outro e por isso a Comunicação Não Violenta deve ser vivenciada dia após dia, para que obtenhamos a prática de usá-la.
A CNV foca nos pontos comuns entre as pessoas, valorizando e celebrando as diferenças e assim destruindo o mal-estar que costuma permear alguns relacionamentos.

                                                   Quem usa?

Pessoas que desejam melhorar suas relações interpessoais, mediadores de conflitos, psicoterapeutas, famílias, educadores, ONGs, comunidades, instituições, organizações de todos os setores, empresas, líderes e também é bastante utilizada no âmbito político e em conflitos internacionais.
Aqueles que se apoiam na Comunicação Não Violenta (chamada também de Comunicação Empática) consideram que todas as ações estão originadas numa tentativa de satisfazer necessidades humanas, mas tentam fazê-lo evitando o uso do medo, da vergonha, da acusação, da ideia de falha, da coerção ou das ameaças. 
O ideal da CNV é conseguir que nossas necessidades, desejos, anseios e esperanças não sejam satisfeitos às custas de outra pessoa. Ela é capaz de criar relações pacíficas entre as pessoas e é Muito útil para promover conexão consigo mesmo e com o outro.
No entanto, CNV não é um conjunto de técnicas que você vai aprender e vai sair usando mecanicamente e por isso terá sucesso! Não. CNV é muito mais que isso, sequer é um modo de vida. CNV é uma escolha! Todos os dias você acorda e valentemente decide, escolhe viver CNV! 

Nayara Ramos
Instagram: alemdaconversa