segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Disciplina Positiva em sala de aula - Minha trajetória - Parte I



Por muitos anos, provavelmente, fruto da minha educação em casa e também na escola, acreditei que para aprender, deveria ouvir ou quando essa tática não dava certo eu mesma deveria estudar sozinha e aprender o que quer que fosse... Assim, estudei e aprendi muita coisa sozinha, provavelmente daí veio a paixão pelos livros, descobri bem cedo que eu poderia aprender coisas interessantes naquelas páginas maravilhosas! Mesmo quando eu decidia não prestar muita atenção "àquela aula", eu sabia que em algum livro eu encontraria o que era preciso. Sonhei quando criança que seria professora... Dei aulas para o meu irmão, para os vizinhos e para os alunos que existiam somente na minha imaginação! Sempre amei dar aulas, sempre amei ensinar...
Como era de se esperar, fiz MAGISTÉRIO (naquela época ainda existia, ooops! Acabei de revelar minha idade... risos), o meu ensino médio foi em um Centro de Referência para a Formação do Magistério!  Lá, falávamos o tempo todo de "Escolanovismo", "Motivação", "Construtivismo"... Mas em aulas pouco motivadoras e em um modelo totalmente tradicional... Eu sabia bem qual era a definição de "Escola Nova", mas não conhecia a sua prática e também não tinha maturidade para florescer aquela ideia em práticas, na minha cabeça tão jovem!
Terminei o Magistério, com louvor - notas altas e uma excelente performance enquanto aluna! Uma de minhas professoras me indicou para o cargo de professora em uma escola de porte médio na cidade e assim comecei a minha carreira!
Eu estudava muito, me dedicava muito e falava pra caramba (este fato não mudou rs, rs), e assim como eu aprendia, passei a ensinar!
                    O pensamento era: se e tão somente se esses alunos me ouvirem, certamente aprenderão!
Então veio a realidade... As crianças não ouviam! rsrs... Há um certo exagero aqui, em alguns momentos ouviam sim! Mas a sensação que eu tinha era que a sala de aula era um campo de batalha e que todos os dias eu deveria chegar ali pronta para uma "guerra"! Para dizer coisas do tipo... "Isso vai cair na prova, prestem atenção", "Se não copiar no caderno, vai perder ponto", "Quem conversar não vai para o recreio", e gritar muito em meio ao caos "Gente, silêncio!" entre outras "promessas" que os professores costumam fazer aos seus alunos... Quem nunca fez uma promessa dessas como professor, certamente ouviu como aluno! O fato é que eu saía da sala de aula muito cansada... Mas eu era muito jovem, então todos os dias estava lá, com força renovada e também tentando novas estratégias... Foi assim o primeiro ano de magistério... Na verdade, os primeiros 6 meses... Não mencionei, mas eu entrei no lugar de uma professora que havia se demitido da escola porque um aluno de 9 anos, tinha a agredido! É claro que quando eu entrei naquela sala de aula, eu já entrei com muitas reservas e preconceitos e por isso, hoje eu entendo, adotei uma postura muito rígida, para que aqueles meninos de 9 anos entendessem que não podiam "brincar" comigo da maneira como haviam "brincado" com a prô anterior!
No "fim das contas" deu tudo certo, todos foram aprovados, fizeram boas provas... Eu fiquei com o emprego para o ano seguinte e assim comecei a minha trajetória...
No ano seguinte um livro me salvou, na verdade dois livros, um era sobre dinâmicas em sala de aula e o outro era sobre Pedagogia de Projetos! Me agarrei àquelas leituras e passei a fazer muitas "brincadeiras" e jogos em sala de aula, os livros didáticos muitas vezes traziam boas ideias que eu também executava e por isso acabava tendo uma sala de aula mais "alegrinha" que as demais! É claro que aquela "alegria" dos alunos confundiu a cabeça de algumas pessoas que passaram a dizer que eu não dava aula, que eu era uma professora que só brincava e contava histórias... em uma conversa com uma das diretoras da escola, ouvi que eu deveria ser mais rígida porque eu era uma professora muito "permissiva" e os pais não gostavam daquela conduta nos professores! A partir daquele "sábio" conselho, passei a moderar os jogos, e dinâmicas, e histórias...







Antigamente - Carlos Drummond de Andrade

ANTIGAMENTE
                                                                                                                     CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
I-
ANTIGAMENTE, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficava longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era pra tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não empedia que, nesse entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava manta e azulava, dando às de Vila-diogo. Os idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n'água.
Havia os que tomavam chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: "Farei presente." Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu , exclamando: "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo"; ao que o Reverendíssimo correspondia: "Para sempre seja louvado." E os eruditos, se alguém espirrava - sinal de defluxo -, eram impelidos a exortar: "Dominus Tecum." Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que l he faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não : verdadeiros cromos, umas tetéias.
Antigamente, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde judas perdeu as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um "cabrito", não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de baixo, ou seja, da corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais que velhacos: eram grandessíssimos tratantes.
Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era phtysica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthmas os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O.London, não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam. Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.
                                                                                        II-
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés sem tugir nem mugir. Nada de bater na corcunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pis levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo d'água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete; depois de fintar e de engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. O diacho eram os filhos da Candinha: que somava a candongas acabava na rua da amargura, lá encontrando, encafifada, muita gente na embira, que não tinha nem para matar o bicho; por exemplo, o mão-de-defunto.
Bom era ter costas quentes, dar as cartas com a faca e o queijo na mão; melhor ainda, ter uma caixinha de pós de pirlimpimpim, pois isso evitava de levar a lata, ficar na pindaíba ou espichar a canela antes que Deus fosse servido. Qualquer um acabava enjerizado se lhe chegavam a urtiga no nariz, ou se o faziam de gato-sapato. Mas que regalo, receber de graça, no dia-de-reis, um capado! Ganhar vidro de cheiro marca Barbante, isso não: a mocinha dava o cavaco. Às vezes, sem tirte nem guarte, aparecia um doutor pomada, todo cheio de noive horas; ia-se ver, debaixo de tanta farafo era um doutor mula ruça, um pé rapado, que espiga! E a moçoila, que começava a nutrir xodó por ele, que estava mesmo de rabicho, caía das nuvens. Quem queria lá fazer papel pança? Daí se perder as estribeiras por uma tutaméi, um alcaide que o caixeiro nos impingia, dando de pinga um cascão de goiabada.

Em compensação, viver não era sangria desatada, e até o Chico vir de baixo vosmecê podia provar uma abrideira que era o suco, ficando na chuva mesmo com bom tempo. Não sendo pexote, e soltando arame, que vida supimpa a do Degas! Macacos me mordam se estou pregando peta. E os tipos que havia: o pau-para-toda-obra, o vira-casaca (este cuspia no prato em que comera), o testa-de-ferro, o sabe-com-quem-está-falando, o sangue-de-barata, o dr. Fiado que morreu ontem, o Zé-povinho, o biltre, o peralvilho, o salta-pocinhas, o alferes, a polaca, o passador de nota falsa, o mequetrefe, o safardana, o maria-vai-com-as-outras....Depois de mil peripécias, assim ou assado, todo mundo acabava mesmo batendo com o rabo na cerca, ou simplesmente a bota, sem saber como descalçá-la. Mas até aí morreu o Neves, e não foi no dia de São Nunca de tarde: foi vítima de pertinaz enfermidade que zombou de todos os recursos da ciência, e acreditam que a família nem sequer botou fumo no chapéu? 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O verbo no infinito - Vinícius de Moares









Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar 
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Vinícius de Moraes




Prometo estar com você, te dando coragem sempre que precisar, mesmo que nada dê certo no final. Fazendo-te ficar melhor quando se sentir sozinho. Contando os meus mais loucos segredos e planos. Até quando o meu coração não mais aguentar, e parar de bater.’
Up, Altas Aventuras

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Que neste ano tenhamos muitos motivos para sorrir. (amém)